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Texto para discussão 20/2005

Convergência tecnológica e a formação de novos tipos de alianças estratégicas: uma análise do desenvolvimento dos Personal Digital Assistant (PDAs)
Danilo Eugenio Amorim*, Walter Tadahiro Shima**

Introdução
Mercados de computadores e de comunicações estão em processo de redefinição. No cerne desse processo encontram-se dois fenômenos. Um, é o surgimento de uma nova classe de computadores miniaturizados que podem ser carregados até em carteiras. Outro se relaciona aos avanços na capacidade de digitalização de voz, dados, texto e imagens que, conseqüentemente, tem permitido intensificar e aumentar o volume de informações em circulação virtual a custos decrescentes. Desse modo, abrem-se novas oportunidades de negócios relacionadas ao mundo digitalizado em que fabricantes de aparelhos e desenvolvedores de redes de comunicação, além da diversificação dos serviços relacionados às atividades telemáticas, vêem o entretenimento móvel como um aspecto importante para o futuro deste mercado: consumidores usarão seus celulares não apenas para estabelecer comunicação de voz, mas também para trocas e acesso virtual a dados e conteúdos de entretenimento (música, imagem e vídeo). Essas novas possibilidades técnicas estão moldando um novo ambiente competitivo em que as firmas estão se posicionando para enfrentar as fortes incertezas tanto tecnológicas como de mercado. Por conseguinte, tem sido crescente o número de arranjos colaborativos envolvendo inclusive firmas rivais. Nesse sentido, na medida em que a matéria-prima básica nesse mercado telemático é uma só – a informação digitalizada – é possível verificar que arranjos cooperativos estão ocorrendo entre agentes econômicos que tradicionalmente nunca convergiram sobre qualquer natureza, seja técnica e/ou econômica. Porém, na medida em que imagem e som se tornam um único tipo de sinal (binário), firmas de segmentos totalmente diferentes unem competências e convergem para a formação de alianças. Se imagem e som analógicos não tinham relação técnica alguma e, conseqüentemente, as firmas relacionadas a uma e ao outro não se cruzavam no mercado, atualmente essa convergência tecnológica impõe uma nova estrutura competitiva que traz firmas de segmentos inimagináveis para a competição. No auge do desenvolvimento das tecnologias analógicas, por exemplo, era inimaginável que a Sony pudesse ter alguma relação com a comunicação de voz, assim como a Ericsson com a imagem. Assim, produção e processamento de imagem eram parte de uma atividade, enquanto a comunicação de voz era parte de outra; essas duas atividades não tinham quaisquer relações. Porém, quando som, imagem e voz se tornaram uma única matéria-prima, essas firmas puderam buscar algum tipo de arranjo cooperativo para explorar competências mútuas para a produção de multimídia em geral. Em suma, o fenômeno da digitalização leva à formação de arranjos cooperativos e estratégias competitivas próprias. Dentro deste contexto, o objetivo deste artigo é analisar a natureza das alianças estratégicas a partir da convergência tecnológica em multimídia. Mais especificamente, como exemplo, será analisada a formação da joint venture entre a fabricante de celulares Ericsson e a fabricante dos produtos eletrônicos de consumo amplo Sony, para o desenvolvimento da terceira geração de celulares. Com esse estudo de caso, por meio do levantamento da trajetória tecnológica das duas firmas, pretende-se compreender como a convergência tecnológica propiciou a configuração dessa aliança. Em outros termos, por meio desse caso, pretende-se entender como digitalização propicia a cooperação entre agentes econômicos de segmentos totalmente diferentes e define novas estruturas competitivas. Neste intuito, este trabalho compõe-se de mais quatro seções além desta introdução. Na segunda seção é apresentada a abordagem de redes de firmas dentro da análise econômica e suas principais características. Especial atenção é dada ao caso das alianças estratégicas dentro dos vários tipos relevantes de arranjos cooperativos entre firmas. Na terceira seção são apresentadas características do mercado de aparelhos PDA (Personal Digital Assistant), no que se refere à discussão sobre as gerações de comunicação móvel, convergência e padrões tecnológicos. Na quarta seção, analisam-se as implicações da evolução do mercado desses aparelhos e da trajetória tecnológica das firmas para o caso da aliança recente entre as firmas Sony e Ericsson. Através das principais variáveis de análise e suas inter-relações,discute-se possíveis desdobramentos desse empreendimento em termos da trajetória tecnológica das firmas envolvidas e, por outro lado, a influência de suas trajetórias tecnológicas sobre a configuração do acordo. Por fim, na quinta seção são apresentadas algumas conclusões.

* Mestrando em Desenvolvimento Econômico pelo Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
** Doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ). Professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR.

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