Texto para discussão 02/2007
Por que o custo do capital no Brasil é tão alto?
José Luís Oreiro*, Luiz Fernando Rodrigues de Paula**, Guilherme Jonas Costa da Silva***, Rafael Quevedo do Amaral****
Resumo
O presente artigo tem por objetivo explicar o elevado custo do capital no Brasil,
apresentando algumas hipóteses a respeito do porque a taxa real de juros de curto-prazo e
os spreads bancários são tão elevados. Nesse sentido, ao longo deste artigo pretendemos
argumentar que o “problema do juro real” e o “problema do spread bancário” estão
intimamente associados. Mais precisamente, iremos argumentar que uma causa importante
do spread bancário elevado é o patamar elevado da taxa de juros de curto-prazo fixada pelo
BCB. Dessa forma, o equacionamento definitivo do “problema dos juros” no Brasil, com a
convergência da taxa real de juros de curto-prazo para os patamares observados nos demais
países do mundo, deverá induzir uma redução expressiva do spread bancário, contribuindo
assim para a redução do custo do capital na economia brasileira. Por sua vez, o “problema
dos juros” decorre do fato de que operação da política monetária por parte do BCB é pouco
eficaz no sentido de que a dinâmica da função de reação do BCB é tal que a taxa de juros
SELIC acaba respondendo a variações da taxa nominal de câmbio. As variações do câmbio
nominal, por sua vez, são um determinante importante da variação do IPCA, haja vista o
peso dos preços administrados no cálculo do IPCA (30%) e o fato de que os preços
administrados são, em larga medida, indexados pelo IGP-M e pelo IGP-DI, ambos
extremamente sensíveis a variação da taxa nominal de câmbio. Nesse contexto, a inflação
brasileira é predominantemente uma “inflação de custos” e, como tal, não deveria ser
combatida por intermédio de elevações da taxa nominal de juros, mas por medidas que
visassem diminuir a volatilidade da taxa de câmbio e a redução do efeito pass-through do
câmbio para os preços como, por exemplo, a desindexação dos preços administrados com
respeito a índices de preços que sejam muito sensíveis a variações da taxa nominal de
câmbio. Além disso, deve-se ressaltar que a indexação de parte considerável da dívida
pública federal pela SELIC reduz o efeito riqueza de elevações da taxa de juros,
diminuindo assim o impacto de uma contração monetária sobre a taxa de inflação.
Palavras-chave: crescimento; custo do capital; economia brasileira.
* Doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
** Doutor pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (FCE/UERJ) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
*** Mestre em desenvolvimento econômico pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da Universidade Federal do Paraná (PPGDE/UFPR), doutorando em economia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (CEDEPLAR/UFMG) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
**** Mestrando em desenvolvimento econômico pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da Universidade Federal do Paraná (PPGDE/UFPR) e economista do Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério de Minas e Energia.
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